Steve Aoki is Alive! Or.. Neon Future is 'Neon present'.
2020 é de longe um ano estranho. O mundo está caminhando já há algum tempo para extremos complicados e individualistas em todas as escalas, que podem transformar o mundo para algo melhor ou, o mais provável, bem pior.
Uma onda conservadora e nacionalista está crescendo, pisando no freio da globalização e na tomada de decisão conjunta e internacional de assuntos econômicos, políticos e sociais.
Brexit, Guerras comerciais e uma nova corrida de soberania nacional com fechamento de fronteiras e proteção de produções nacionais em países que até então defendiam o contrário (EUA é o grande exemplo).
Que erro! Que perigo vivemos em abraçar o nacionalismo e abortarmos o plano global. Já vivemos globalmente e decisões isoladas só geram problemas mais graves e soluções mais lentas.
O Corona Vírus é um exemplo incrível disso, pois se tivéssemos uma gestão global de leis e regras para a saúde, certamente teríamos barreiras, contenções e sistemas melhores estruturados para conviver e combater a pandemia. No final temos países apagando, cada um seu fogo, enquanto o vírus já cresce em uma segunda próxima onda prevista novamente para rodar grande parte do globo.
No mundo político, econômico e de construção social isso é um problema.. E na cultura?
Na cultura, pop ou não, o que vemos é um reflexo disso. No Brasil o funk e sertanejo que já tinham um espaço gigante, agora são reis de qualquer stream. Músicas evangélicas e seus grupos religiosos já estão entre os TOP 100, 50 e 20 e com intenção ou não, até Pabllo Vittar já parece ter embarcado nessa pegada com seu último Hit vazado, Rajadão.
Não tenho dúvida que, se eu acessar rankings dos top20 de outros países, boa parte será nacional, bem diferente do ano 2000 por exemplo.
Visitei agora por exemplo a Rádio La Mega de Bogotá. Pelo menos 15 posições das 20, são músicas cantadas em espanhol. Deixa eu abrir aqui nos EUA..:
Primeiro lugar pela Billboard RODDY RICCH (nunca ouvi..).
Enfim, na cultura, não há como criticar esse movimento, pois ele é um reflexo. Ganha a música estrangeira que, de algum modo, abraça características e elementos locais para vender sua maestria.
Há também uma outra possibilidade: A NOSTALGIA.
Desde 2019 já tínhamos um movimento de retorno aos anos 90 com séries, filmes e na música. Sandy & Junior que o digam, já que tiveram uma das turnês mais lucrativas do Brasil em 2019 e a segunda mais lucrativa do mundo. Isso sim é aproveitar a crista da onda!
Os mais espertos seguiram a onda e já estão entre 80 e 70, como Lady Gaga, Dua Lipa, Sam Smith. É um local seguro neste momento e tem alcance global sem ferir o nacional, já que a nostalgia está no universo da lembrança.. está no flash back.. no que já foi.. no que já é de alguma forma nosso, seja bom ou ruim, seja feito no país ou não, pois já estamos tão acostumados e está tão impregnado que inconscientemente aceitamos.
Especificamente no universo eletrônico, o progressive e o techno estão grudados nos anos 90, até por que nesta bolha é complexo retornar um pouco mais sem ir para o pop ou hip hop. Aqui seria o lugar onde a música eletrônica deveria estar tentando tocar. É aqui que ela deveria estar devorando os amadores.. mas não está. Alguns poucos DJS como Duke Dumont, Lost Frequencies, David Guetta, Major Lazer, estão conseguindo abrir estes campos nos anos 90 ou no nacional. Mas é claro: Os DJs nacionais são os astros e o beat é definido pelo que estes DJs fazem (o que sinceramente, acho pobre, pois não tem pensamento global). Nada contra Vintage Culture por exemplo, mas sei que poderíamos mais. Só não estamos fazendo.
Ok! Mas onde entra o Aoki e o Neon Future IV?
Hoje saiu a sequencia de Neon Future já na quarta versão.
A sensação que tenho ouvindo Neon future IV é de que foi decidido entre o segundo semestre de 2019 e estes primeiros meses de 2020 que o cd seria lançado. É um álbum perdido! Um álbum extenso com mais de 25 músicas. Atira para todos os lados, para vários parceiros bem diferentes, para vários estilos, e acho difícil tomar conta dos streams.
Sem um trabalho muito próximo dos DJs com quem fez colab, sem um time muito acertado sobre quando lançar videos/clipes, sem um plano de marketing muito bem estruturado, o álbum não irá para lugar algum. Poderia ser um álbum até bom se fosse enxugado em dois álbuns ! Um mais experimental.. Outro mais comercial.. Faltou uma forma diferente de vender esse pendrive inteiro que é o lançamento.
E fico triste! O álbum tem lançamento do Sting com uma música insossa que mais combina com Sigrid. Tem Matthew Koma em Cut You Loose que mais parece um plágio.. um sample de
Arctic Monkeys - Do I Wanna Know?
E falei tudo que falei para que pensem comigo: 'Neon Present' está sofrendo e dando um reflexo dessa confusão sobre o que virá no mundo pós pandemia? É um álbum que Steve Aoki fez como uma salada de tudo que queria sem pensar.. sem por em cima senso crítico?
Ou é um erro?
Daria certo uma aposta de Aoki nos anos 90? Ele é uma previsão de como os artistas estarão trabalhando no Future?
Pra piorar sua turnê foi marcada em cima da pandemia americana. Furou.
É hora de Steve Aoki repensar, correr e fazer. Ele está perdendo tempo pois capacidade, sabemos que ele tem.
Mas espero que ele e seu time olhem o contexto em que estamos.
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