Ela chorava e quase se rasgava ao se separar de Milo. Depois de construir sua torre de babel em cima da areia, Deus, na sua misericórdia e bondade, veio derrubar. Tinha outros planos para ele que ele não conseguia enxergar. Estuprou verdades com a boca e deixou que a rua toda ouvisse.
Não de propósito, sentei próximo para descansar e ouvi:
- Seu amor é ganancioso e egoísta como o amor dos outros. Como o amor dos que amam da boca pra fora, dos que amam pelo excesso de amor próprio mesmo não sustentando seu próprio peito nos teus pilares.
Seu amor é baixo e mesquinho a ponto de recitar juras, apenas para garantir conservada a presa, manter fresca carne, do corpo já vulnerável ao teu veneno.
Seu amor é sujo, sujeira dos carnavais que outrora te faziam se sentir alguém e hoje só relembram seu passado vazio e improdutivo.
Seu amor é tão ausente de Amor, que no meio do meu tango, teve a ousadia de aparecer com teu vinho barato, com tuas mãos calejadas não pelas flores que um dia me prometeu colher, mas pelos tombos que no meio da sua bebedeira e lascívia não se importou em festejar.
Eu não quero desse amor que mais tem de dor que de carinho, mais tem sofrimento que de alegrias. Não quero desse amor que finge ser ternura mas que na fome desmedida de corações, perturba os sonhos mais bonitos e as noites mais chuvosas.
E se você chama cultivar tudo isso de amor próprio saio eu distribuindo do meu e me ausento dele, por que prefiro encher os olhos do mundo com minhas pequenas alegrias do que explodir em mim a tristeza alheia apenas para forçar um brilho que não tenho.
Com a face vermelha, olhos ardendo e a alma mais leve da avenida, partiu em linha reta para a felicidade.
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